sábado, 7 de março de 2009

VINHO E SAÚDE

O vinho sob a ótica da Nutrição Funcional

Por: Dra. Elisabete Higashi

Quando fui convidada a escrever uma matéria sobre o vinho, pensei: muitos textos sobre essa bebida já foram escritos e seus apreciadores geralmente possuem um razoável conhecimento sobre sua história, origens, tipos, combinações alimentares e efeitos benéficos para o organismo.

Como então escrever uma matéria original que trouxesse algum enfoque pouco explorado e conhecido a respeito dessa bebida tão apreciada por todos e fonte inspiradora para os românticos, enólogos e cientistas do mundo inteiro ?

Conversando com alguns clientes e amigos pude observar que a maioria sabe que o vinho é benéfico para a saúde mas desconhece de que forma isso ocorre. Assim, resolvi aprofundar meus conhecimentos pesquisando sobre a ação dos principais compostos do vinho na saúde humana, à luz da ciência da Nutrição.

Dentre as bebidas classificadas ‘alcoólicas’ , o vinho é sem sombra de dúvidas, o mais favorável à saúde, tendo como compostos: água, etanol, ácidos graxos, açúcar, aldeídos, aminoácidos, carboidratos, ésteres, glicerina, monoterpenos e polifenóis. Pelas propriedades funcionais que exercem sobre o metabolismo humano, discorrerei sobre os dois últimos compostos.

MONOTERPENOS - São as menores moléculas componentes dos óleos essenciais; por este motivo, penetram com extrema facilidade em todos os tecidos e células de nosso corpo e possuem uma poderosa ação solvente de lipídeos (gorduras), razão pela qual pode interferir no equilíbrio das gorduras do sangue, como os fosfolipídeos (colesterol, HDLc, LDLc). Na uva, os terpenos são encontrados principalmente nas cascas e, na maioria das vezes, ligados covalentemente a açúcares. Por não sofrerem alterações durante o processo de fermentação, vários estudos sugerem que boa parte da expressão sensorial do ‘bouquet’ do vinho se deve à presença de compostos terpenóides, ou seja, as quantidades de cada terpeno em um vinho podem servir como pista para se descobrir a variedade da uva utilizada. É como se cada vinho tivesse sua própria ‘assinatura’ de sabor , única e personalizada. Interessante não ?

Há cerca de 50 monoterpenos relatados na literatura e que são comumente presentes nos vinhos. Aqueles produzidos com a uva Muscat, os principais monoterpenos são : o linalol, geraniol, nerol alfa-terpineol e citronelol.

POLIFENÓIS – Quimicamente definidos como um fenol de várias hidroxilas ligadas a um anel aromático, estão presentes no reino vegetal em abundância, onde já foram identificados mais de 8.000 deles. Os polifenóis são encontrados principalmente nas cascas, sementes e folhas de frutas e vegetais, conferindo-lhes uma coloração viva e brilhante. São também responsáveis pela proteção contra os ataques físicos como as irradiações ultravioletas do sol e dos ataques biológicos de fungos, vírus e bactérias, além de exercerem potentes efeitos antibiótico, antiinflamatório e antioxidante. Com todos estes benefícios, os polifenóis estão entre os principais compostos químicos com ação positiva na saúde humana.

O tão afamado ‘Resveratrol’, presente na uva e vinhos, por exemplo, é um dos polifenóis amplamente estudado e comprovado cientificamente como um potente antioxidante e inibidor da agregação plaquetária, um dos principais fatores de risco para distúrbios do coração como a aterosclerose.

Ainda sob o ponto de vista bioquímico, os polifenóis são pouco solúveis em água, mas apresentam alta solubilidade no álcool , meio onde os efeitos benéficos daqueles são potencializados. Ou seja, se de uma mesma tipagem de uva se fizer quantidades iguais de suco e vinho, teremos mais polifenóis no vinho por causa do álcool, além do incremento dos efeitos positivos no organismo. Acrescenta-se que a presença dos polifenóis contribui para uma menor absorção do álcool pelo organismo, o que justificou o uso de vinho tinto em vários estudos europeus no combate ao alcoolismo. Realmente uma relação harmoniosa e saudável !

E para finalizar, acredito que muitos indaguem: quanto e que tipo de vinho eleger , branco ou tinto?

São mais de 200 tipos de polifenóis identificados nos vinhos, concentrados nas cascas e sementes das uvas (cerca de 95%). Por essa razão o vinho tinto deve ser o eleito quando se fala em promoção da sáude, uma vez que é fermentado na presença de cascas e sementes, enquanto que o vinho branco é processado na ausência delas. A proporção de polifenóis no vinho tinto é cerca de 10 vezes superior em relação ao branco.

Assim, desde que você não tenha contra-indicação à ingestão de bebidas alcoólicas, é perfeitamente possível cultivar o prazer de beber um bom vinho e ainda agregar muitos benefícios para a sua saúde, desde que se respeite as 2 regras básicas : moderação (1 taça de 150 ml junto às refeições) e qualidade. O vinho? Um bom vinho tinto.

Saúde !

Elisabete Higashi

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